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ausência, solidão e falta

  • Foto do escritor: Nathália
    Nathália
  • 11 de mai. de 2022
  • 3 min de leitura

Nunca me senti tão sozinha em toda minha vida. Nem nas inúmeras crises de ansiedade, depressão, mortes e até mesmo quando tentei praticar atos irreversíveis. Solidão sempre me acompanhou e eu sempre tentei preencher esse espaço das mais diversas formas. Pessoas, situações, experiência, e tantas outras formas de sair da realidade que tanto me atormentava mas, sem sucesso. Afinal, meu problema sempre foi algo que nunca ninguém conseguiu atingir plenamente: minha cabeça que insiste em falar comigo como um fantasma que conta histórias de um passado intenso e igualmente triste.


Há muitos gatilhos que despertam a tristeza sem fim, como diria o Poeta, gatilhos que me fazem voltar anos e aquela menina que outrora sonhava com um futuro um pouco menos "dramático", jamais deixaria de ser viciada em sentir adrenalina. E eu sinto falta dessa adrenalina. É quase um cigarro, um bom drink ou até mesmo um chocolate na TPM. É vício. E quando não recebo essa dose, a crise se intensifica e tudo fica mais difícil. Eu sinto falta da adrenalina, do jogo, da conquista, do fogo que envolve tudo que chega e vai se apagando, até que vira fumaça e como ela, se vai.


Ter ficado tanto tempo sozinha, confinada, isolada, distante, tem feito com que eu reveja tantas coisas, mais do que gostaria de analisar. Há muitas coisas que quero mudar, outras que acho que (por fim) aprendi a aceitar e descobri coisas novas, mas quase nunca boas. Tenho tido mais tempo para fazer coisas que eu redescobri que amava: pôr-do-Sol, uma cerveja gelada no final de um dia feliz ou um dia triste, um bom livro que me acompanha em todos os 64m2 do apartamento. Redescobri que gosto de dançar, de cantar, fotografar, pintar, costurar e que escrever, definitivamente, me salva. Me salva de discussões, de pensamentos ruins, reflexões desnecessárias, falas que não quero, realmente, falar mas que formam um contexto necessário.


Escrever salva minha vida. E já salvou em momentos em que tudo parecia certo para que eu tomasse uma atitude que impactaria em toda uma dinâmica. Eu, que tantas vezes quis sair de cena, tantas vezes não quis subir ao palco, me descobri em um lugar e momento único. Ainda me pego chorando por dores que parecem não sarar, por inseguranças sem sentido, por momentos que aconteceram e acabaram, por momentos que jamais aconteceram ou acontecerão. Me pego criando cenas onde o roteiro é ótimo e eu fico feliz como roteirista, afinal sou muito beneficiada; mas não deixo nenhum personagem triste no final do filme.


Esses dias em completo isolamento e distanciamento me fizeram questionar minha vida perante aos outros, afinal: eu sou realmente essencial? Importante para a vida das pessoas? Elas seguem vivendo, normal, não sou o pulmão de ninguém, nem sequer o cérebro, coração ou outro órgão essencial. Tive (e ainda tenho) muito medo de ser substituída, trocada. Meu maior medo sempre foi ser esquecida e eu comecei a perceber que é isso que vai acontecer. Afinal, sozinha, só sei lembrar e viver de memórias de coisas que já construí. A memória das pessoas que amo continuam vivas em mim. Mais do que nunca. E, ao mesmo tempo, fui criando memórias solitárias, onde sou a única personagem e que viverão apenas em mim. Dias felizes, com Armandinho e outras bandas que cantam sobre liberdade e amor. Dias tristes onde percebo que a liberdade não existe e que a solidão acontece e bate forte. E foi nesse meio termo que encontrei solitude.


Me descobri como uma boa companhia, mais silenciosa do que imaginava, mas com uma agilidade, destreza e ânimo que só reconheci na minha versão de cinco anos. É como se eu voltasse para a primeira infância, onde só sabemos viver na nossa cabeça e a reação do Mundo é totalmente nova e, muitas vezes, de uma maneira que não gostaríamos de viver. Percebi que a vida segue e ela sempre segue, ainda que você passe duas noites sem dormir porque não consegue parar de chorar. A vida sempre segue. E ela não espera. Eu já deveria ter aprendido isso, a primeira lição veio em outubro de 2009, a segunda fevereiro de 2015 e a última, como um soco na boca do estômago, agosto de 2017. A vida sempre segue.


E é por seguir, que eu sigo escrevendo e tentando limpar tudo que está guardado e insiste em sair pelos olhos, pela boca e pelos dedos. Eu nunca me senti tão sozinha, tão longe e tão distante. Não há ninguém perto fisicamente, não há ninguém perto de forma alguma. Estou sozinha. Acho que se eu fosse pro Japão seria mais perto...




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Nathália

Jornalista, nascida em 1994 e apaixonada por História. Minha missão é fazer com que você conheça alguma mulher incrível todos os dias. Bora?

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